A escolha pelo pessário ou cerclagem deve levar em consideração o quadro clínico, a ultrassonografia e os antecedentes gestacionais
A prematuridade é uma doença que aflige gestantes e obstetras, especialmente as mulheres que já possuem um histórico de parto prematuro ou de perdas gestacionais.
Toda gestante deve realizar o rastreamento do parto prematuro através da ultrassonografia transvaginal para avaliar o comprimento do colo uterino 1,2. Mulheres com comprimento do colo uterino ≤ 25 mm devem utilizar progesterona vaginal 3.
Entretanto, o uso isolado da progesterona só consegue reduzir cerca de um terço dos partos abaixo de 34 semanas em mulheres com colo curto. Frente a essa redução discreta, há necessidade da associação de algum método mecânico, como pessário ou cerclagem 4–6.
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O que é pessário e para que serve?
O pessário foi criado na década de 60 com o intuito de substituir a cerclagem, sem que houvesse necessidade da realização de anestesia. Entretanto, ao longo do tempo, ele não mostrou a capacidade de substituir a cerclagem, mas sim, de agir em alguns casos de mulheres com comprimento do colo uterino curto 4.
Esse dispositivo trata-se de um “anel” de silicone. Ele é inserido por via vaginal, encaixando-se no colo uterino, com o intuito de mudar a angulação do colo e evitar a sua abertura, em mulheres com comprimento do colo uterino curto 7,8. Embora tenha sido projetado para ser um procedimento simples, o grupo do Prof Dr Alan Hatanaka produziu um trabalho científico demonstrando a importância do treinamento no sucesso do pessário 9.
Quais as vantagens do pessário?
A maior vantagem do pessário é mostrar-se eficaz na redução do parto prematuro < 34 semanas em gestantes de baixo risco com colo uterino entre 10 e 25 mm, quando comparado ao uso da progesterona isolada. Esses achados são fruto do estudo randomizado P5, do qual o Prof. Dr. Alan Hatanaka foi um dos autores 10,11.
Um ponto interessante é que sua colocação não necessita de internação ou anestesia raquidiana.
Para quem o pessário é recomendado?
Compreender a indicação correta é fundamental para definir quando indicar o pessário ou a cerclagem. A gestante com colo com comprimento ≤ 25 mm tem chance de 50% de nascimento antes de 37 semanas, de 25% antes de 34 semanas, de 20% antes de 32 semanas e 10% antes de 28 semanas 1.
Importante ressaltar que não há evidências de que o pessário funcione em mulheres com gestação gemelar, antecedente de parto prematuro espontâneo e comprimentos do colo ≤ 10 mm 10,11. Sua indicação, portanto, ficaria restrita àquelas mulheres sem antecedentes de prematuridade espontânea e com colo uterino com comprimento entre 10 e 25 mm.
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O que é cerclagem e para que serve?
A escolha entre o pessário ou cerclagem deve ser baseada em evidências científicas, pois não são métodos concorrentes, mas sim complementares.
A cerclagem trata-se da realização de pontos ao redor do colo uterino, que deve ser realizada em mulheres com suspeita de insuficiência istmo cervical, ou em alguns casos de colo uterino curto. O procedimento deve ser feito em ambiente de centro cirúrgico sob raquianestesia.
Seu principal objetivo é evitar a dilatação do colo uterino, o que pode prevenir a ocorrência de abortamento acima de 12 semanas ou de parto prematuro, a depender de cada caso.
Existem dois tipos de cerclagem: a eletiva e a de urgência. A eletiva é realizada com 12 a 16 semanas de gestação, após diagnóstico de insuficiência istmocervical (CID N.88.3). A de urgência é realizada quando o colo uterino está curto, com dilatação, ou na situação mais extrema, quando as membranas estão expostas.
Importante ressaltar que a cerclagem não é eficaz quando usada em pacientes com colo uterino entre 10 e 25 mm sem antecedente de parto prematuro 12, embora para pacientes com colo < 10 mm sua eficácia seja superior à da progesterona e pessário 13.
Quais as vantagens da cerclagem?
A cerclagem trata-se de um método tradicional, cuja técnica é ensinada durante a residência médica. Utiliza materiais cirúrgicos simples, disponíveis na maior parte dos centros cirúrgicos.
Quando realizada eletivamente com 12 a 16 semanas em casos de cerclagem eletiva, podemos liberar atividades diárias normais como as laborais, sexuais e, eventualmente, exercícios físicos.
Para quem a cerclagem é recomendada?
Como disse anteriormente, a escolha entre pessário e cerclagem deve ser feita utilizando os dados publicados e comparando os métodos. A cerclagem trata-se de um método com ampla evidência de eficácia na redução de abortamento tardio e prematuridade em casos específicos, como: 5,6,12–14:
- História típica de insuficiência istmocervical, ou seja, aborto espontâneo com mais de 12 semanas, em geral, chegando ao pronto socorro já com cervicodilatação, de evolução rápida e com feto nascendo vivo. Em geral, a cerclagem é indicada entre 12 e 14 semanas;
- Colo do útero curto, com menos de 25 milímetros, com menos de 24 semanas, em gestantes com história duvidosa de insuficiência istmocervical;
- Gestantes com colo uterino com menos de 10 mm de comprimento;
- Malformações Uterinas com comprimento do colo ≤ 25 mm: as principais malformações são: útero bicorno (dois corpos uterinos), septado (com uma divisão do fundo do útero em direção ao colo), unicorno (apenas um lado do útero, tendo também uma tuba uterina) e didelfos (dois úteros completos separados, com dois corpos e dois colos);
- Cerclagem de urgência: trata-se de um caso extremo, quando há dilatação do colo com exposição das membranas. Deve-se assegurar que não exista infecção dentro do útero antes que seja realizada a cerclagem. Neste caso o procedimento é uma medida considerada heroica, com alto risco de parto prematuro e de romper a bolsa. Pode-se realizar uma punção para reduzir a quantidade de líquido amniótico.
Pessário ou cerclagem: qual é melhor?
A escolha entre pessário ou cerclagem depende de vários fatores e exige a análise de um especialista no assunto. Deve-se levar em conta a idade gestacional (quanto mais cedo, mais favorável a cerclagem), o comprimento do colo uterino (<10 mm a cerclagem está indicada), o exame físico (cerclagem está indicada na presença de cervicodilatação e membranas expostas) e os antecedentes de parto prematuro ou abortamento tardio (a cerclagem está indicada quando há colo curto com antecedente de parto prematuro e quando há abortos tardios de repetição).
A dúvida das gestantes e dos obstetras em utilizar o pessário ou cerclagem frente ao achado de um colo uterino curto é totalmente compreensível. Isso porque há muitos dados na literatura médica e, muitas vezes, são divergentes. A melhor forma de tomar a decisão correta é consultando um especialista no assunto.
O Prof. Dr. Alan Hatanaka coordena o Ambulatório de Medicina Fetal de Predição e Prevenção do Parto Prematuro da Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo.
A equipe do Prof. Dr. Alan Hatanaka está aguardando seu contato para iniciar a jornada de uma gravidez saudável e segura.
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